Sucesso de público, festival SP Metal pode ganhar sobrevida
Marcelo Moreira
A ideia era apenas celebrar. Só que deu tão certo que o evento pode crescer e bandas voltar à ativa. E assim, como clima de comemoração e de reunião de amigos que há muito não se encontravam, o "SP Metal 30 Anos", evento no Sesc Belenzinho em julho, surpreendeu a todos, em todos os sentidos.
Nos dois dias de festival (sexta, 24, e sábado, 25), houve casa lotada, na comedoria do Sesc. Foram mais de 1,5 mil pessoas para ver bandas que atuaram nas coletâneas "SP Metal I e II", lançadas em 1984 e 1985, respectivamente, pela Baratos Afins, loja/selo comandada pelo visionário empresário Luiz Calanca.
O pontapé inicial ocorreu em 2013, quando surgiu o Super Peso Brasil, evento que reuniu cinco bandas pioneiras do metal nacional no Caricoa Club, em São Paulo. O evento virou DVD e as cinco bandas finalmente engataram de novo uma carreira sofrida, mas muito interessante.
Duas delas tocaram na sexta, no Sesc Belenzinho, apesar da chuva forte que fez muita gente se atrasar. O Centúrias fechou a noite de forma brilhante, com duas músicas novas, que devem estar no próximo CD, e o repertório do ótimo LP "Ninja", de 1988.
"Em alguns momentos parecia uma reunião de amigos do tempo do colégio, mas depois a gente percebeu a dimensão da coisa, da importância que as coletâneas tiveram. Em termos culturais, o 'SP Metal' tem uma relevância absurda", comentou emocionado Ricardo Ravache, baixista do Centúrias.
O Vírus abriu a noite, aquecendo os motores para o visceral Salário Mínimo, que mergulhou fundo nos anos 80 com as principais canções do álbum "Beijo Fatal".
"Vi muita gente chorando nos dois dias, pois certamente jamais imaginavam que voltariam a ver o SP Metal. Alguns amigos já morreram, mas foi ótimo celebrar a vida, a música e a nossa resistência", disse China Lee, o vocalista do Salário Mínimo que mal continha a empolgação.
No sábado, a apresentação foi um pouco mais especial, já que duas das três bandas "não existiam" – ou seja, se reuniram apenas para o evento, e gostaram tanto que pensam hipótese de voltar "por um tempo ou definitivamente".
Quem abriu a noite foi o agora trio Santuário, originário de Santos. O guitarrista e vocalista Ricardo Mickaelis, que está editando DVD "Brasil Heavy Metal", se tornoy um grande mestre de cerimônias e contou um pouquinho da história do metal no palco.
O quinteto Abutre trouxe três membros originais e surpreendeu pelo peso e pelo entrosamento, mesmo com o pouco tempo de ensaio que tiveram. O palco da comedoria ficou pequeno para tanta empolgação.
Finalmente, a única banda que se manteve na ativa nas últimas tres décadas fechou o festival. O Korzus celebrava 32 anos de carreira e foi furioso nas cinco músicas que tocou, encerrando com a emblemática "Guerreiros do Metal", um hino de 1985 das hordas que frequentavam as lojas de discos do centro da cidade.
Foram apenas cinco músicas, um aquecimento para o grande show que o quinteto faria no dia seguinte, no Centro Cultural São Paulo, mas que resumiu bem o que representou o "SP Metal" para o rock paulista: energia de sobra, qualidade técnica e muita paixão.
Ao final, enquanto o Korzus relutava em deixar o palco – na verdade, não conseguia -, os amigos confraternizavam e, de forma instintiva, já planejavam os proóximos passos: churrasco, encontro no próximo show do Centúrias e o mais importante, a elaboração de um projeto para levar o "SP Metal 30 Anos" a outros Sescs de São Paulo. Definitivamente, a ideia pegou.
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