Lollapalooza decadente? Calma, nem tanto...
Mauricio Gaia
Mal acabou o Lollapalooza e muitos correram para seus teclados para decretar: o festival está ficando decadente e perdendo relevância. As justificativas, várias: o lineup que, segundo alguns, não empolgou; a diminuição de público em relação à edição anterior; a presença de DJs; a distância entre os palcos em Interlagos, enfim: cada um encontrou um motivo para criticar o evento.
Se, por um lado, os pontos levantados fazem sentido, em termos de crítica, a soma deles não faz com que tenhamos um fracasso, até pelo contrário – se foram 14 mil pessoas a menos do que o esperado (de um total de 150 mil), não dá falar que haja menos interesse pelo que rola em Interlagos. A transmissão de muitos shows em dois canais fechados e um compacto na emissora de maior audiência no país indica que, sim, há interesse.
Ainda os números não foram consolidados, mas não acredito que os patrocinadores tenham saído insatisfeitos – lembre-se um festival como Lollapalooza, Rock in Rio, até mesmo o pequeno Cultura Inglesa existem em função de patrocinadores. O esforço existente no site do Lolla em apresentar as "ativações de marca" (entenda como ações promocionais) é um indicador de que a música era o fio condutor para atividades que impactassem o público com a exposição das marcas dos patrocinadores.
No bom texto de Fernando Augusto Lopes, ele aponta que até para atender as expectativas de marketing dos patrocinadores, é preciso escalar artistas que não afrontem o status quo, que não cuspam na câmera de televisão, não digam palavrões, etc – ou seja, que sejam bons moços, ao contrário do que o Nirvana fez em um longinquo Hollywood Rock no Brasil. Nostálgico, ele esquece que há poucos anos, o Rage Against The Machine incentivou o público a arrebentar a área VIP do SWU. Ou, em uma escala bem menor, deixou passar a brincadeira (pueril, até) que O Terno fez com o nome da marca que dava nome ao palco onde se apresentou, no domingo passado. Principalmente, se esquece que, desde sempre, a maior parte dos artistas de rock sempre foi muito solícita às necessidades de marketing de seus parceiros comerciais – Nirvana, RATM, ou até mesmo Wilco, que cancelou shows em Indiana, em protesto à implantação de leis que, na prática, tornam legais a discriminação a minorias, como homossexuais, são minoria.
Com relação ao line-up, bom, sempre foi característica do Lollapalooza fazer um mix de nomes prestes a estourar (ou não) e alguns headliners de peso. Muitos criticaram a presença de DJs, como se não fosse uma grande novidade – estão aí nomes como Deadmau5, David Guetta (detesto este, aliás) e outros, em grandes festivais para confirmar. Sem esquecer que, nossa, há 20 anos, muitos adoravam Chemical Brothers. Além do mais, e aí já falamos de preferências pessoais, sou muito mais o line-up do Lollapalooza, mesmo com bandas que tenho pouco interesse a assistir, do que ao do único festival que rivaliza em importância (na verdade, é mais importante): o Rock in Rio. A cada anúncio de atrações que estarão no Rio de Janeiro no segundo semestre, menos interesse eu tenho pelo evento. Mas isto é uma preferência pessoal, não cabe dentro desta análise.
Para encerrar, o local: Interlagos é longe, sempre foi longe. A distância entre os palcos é grande, e as pessoas tem que, NOSSA SENHORA, QUE HORROR, ANDAR!! Grandes festivais na Europa acontecem em locais mais distantes dos grandes centros urbanos. Glastonbury é realmente nos cafundós dos judas. As pessoas vão, acampam, andam pacas. Não acreditem no discurso de gente da minha idade (acima dos 40), que já não tem mais saúde ou disposição para andar dois quilômetros entre um palco e outro. Eu também prefiro ver pela televisão. Mas acho que, se você é jovem e gosta de música, não vai se importar em dar uma caminhadinha.
De qualquer forma, a edição 2016 já está confirmada e no Autódromo de Interlagos. Assim que o festival acabar, você irá ler textos descendo o pau no festival e, se tudo correr como neste ano, irei dizer que não foi tão mal assim.
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