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Mercado de música no Brasil - De mal a pior? Nem tanto...

Maurício Gaia

28/03/2015 07h30

Mauricio Gaia

Um cenário de terra arrasada, onde os artistas mendigam para um público mais afeito a truques baratos um pouco de atenção e míseros centavos.

Este é o retrato que Marcelo Moreira gosta de pintar nos dias que deve dormir sem cobrir os pés, como deve ter sido neste final de semana, quando reproduziu parte de texto escrito por Ari Herstand, no site "Playa Del Nacho".

Segundo Herstand, "ninguém mais está disposto a pagar por música, ou comprar música", e ele prossegue com um cenário sombrio, com previsão na venda de downloads na loja do iTunes e com receitas minguadas provenientes de serviços de streaming.

Sim, as receitas do serviço da Apple vem diminuindo, mas também (ou principalmente) em razão da popularização de serviços de streaming. Para muita gente, não faz mais sentido a posse "física" de um arquivo digital, quando você pode usufuir da música de seus artistas preferidos em múltiplas plataformas, de acordo com sua conveniência.

O resultado disto, aparece no relatório 2014 (sobre dados de 2013) da Federação Internacional da Indústria Fonográfica – serviços por assinatura subiram 51,3% em 2013, com receita superior a US$ 1 bi. No total, 39% das receitas do mercado provieram do mercado digital (download ou streaming). O que significa isto? Que, ao contrário do que Herstand/Moreira afirmam, sim, as pessoas QUEREM pagar pela música. Com certeza, nunca mais no modelo de negócio vigente até a entrada do Napster no negócio, mas sim, ainda estão dispostas a pagar.

Uma das coisas que aprendi foi que, se for apresentado de maneira legal e a preços razoáveis, o consumidor médio vai preferir pagar a ter que ficar caçando arquivos internet a fora. Claro que o usuário que faz a "apropriação informal de conteúdos protegidos por direitos autoriais" sempre vai existir, mas acredite, quanto mais maneiras bacanas de se aproveitar este conteúdo for oferecida, mais gente vai aderir a serviços pagos e legalizados. Não fosse isto, os serviços de streaming ou lojas como iTunes e Google Play não existiriam. Este pessoal não é louco, muito menos gosta de rasgar dinheiro.

Mas não para por aí – para adequar o texto de Herstand às suas crenças, meu amigo Marcelo Moreira, embora fornecendo o link para o artigo na íntegra, não publicou uma segunda parte, onde o autor traz outros dados interessantes e aponta algumas soluções. Vamos voltar a ele:

"Sites como o Kickstarter, PledgeMusic, Indiegogo e Patreon têm permitido aos artistas oferecer mimos caros e exclusivos a seus fãs mais ferrenhos. O modelo do Patreon permite que os artistas faturem em cima desses fãs continuamente. O BandPage oferece experiências que possibilitam aos artistas que lucrem em cima de seus fãs mais ardorosos de maneiras criativas enquanto estão em turnê. O BandCamp e o Loudr permitem que os fãs 'deem seu próprio preço' por arquivos lossless ou em MP3. O Fanswell permite que os artistas viabilizem turnês por casas noturnas faturando o máximo possível em cima de um nicho pequeno, mas dedicado de fãs.

[…]

Precisamos de uma nova mentalidade. É uma nova era. As pessoas ESTÃO valorizando aos artistas – mas de um modo que faz sentido para elas [não pra você]. O que há de errado em um rapaz de 23 anos que ama uma banda pagar $250 por algo exclusivo da PledgeMusic, $5 por vídeo lançado no Patreon, $18 por um ingresso para o show, $25 por uma camiseta e conhecer os bastidores de um show do grupo por $50, mas nunca comprar um download ou um CD? O que há de errado nisso?

E os artistas das grandes gravadoras nunca fizeram tanto dinheiro assim com vendas de discos, pra começo de conversa. [..] Eles sempre tiveram que depender de fontes alternativas de renda [como shows e merchandise] para compensar pelo que seus selos não os repassava em royalties. Lyle Lovett admitiu que depois de vender 4.6 milhões de discos, ele havia recebido $0 em royalties de sua gravadora. Mas ele teve uma carreira muito bem sucedida. Por que as pessoas ficam em silêncio quando as gravadoras roubam [legalmente] dos artistas, mas fazem um escarcéu quando os fãs o fazem?

[..]

Então essas são suas opções. Você pode ficar de mimimi sobre 'a queda da indústria musical', reclamar que os fãs não são fãs de verdade se eles não pagam por música gravada, OU você pode ser criativo, adotar as novas tecnologias que se baseiam no relacionamento artista-fã, e liderar a matilha nesse admirável mundo novo cheio de fontes alternativas de renda. A escolha é sua."

Ou seja, ao contrário do que Marcelo Moreira gosta de pregar, acredite, a coisa não está tão feia assim no mercado musical.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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