'Butterfly Ball', a ópera-rock de Roger Glover, faz 40 anos
Marcelo Moreira
Ainda dá tempo de fazer um registro sobre um trabalho que completou 40 anos em 2014 e que também envolveu o Deep Purple, ainda que indiretamente. "Butterfly Ball and the Grashopper's Feast" foi um álbum duplo conceitual composto e dirigido por Roger Glover, então ex-baixista do Purple, banda que deixara pouco meses antes.
A obra é baseada em um livro infantil homônimo ilustrado de autoria de William Plomer e Alan Aldridge, que, por sua vez, tem origem em um poema de mesmo nome escrito em 1802 pelo inglês William Roscoe. Assumindo totalmente a carreira de produtor, Glover foi convidado para produzir o projeto de adaptação da obra para o rock, naquele que deveria ter sido um álbum solo do amigo e tecladista do Deep Purple, Jon Lord.
Uma série de contratempos impediu Lord de se dedicar ao projeto, que seria produzido e gravado durante todo o ano de 1974, e Glover não pensou duas vezes: além de produzir, seria o principal compositor da ópera-rock e deu diretor-geral. Todas as músicas levam a sua assinatura, sendo que em três há uma parceria com o amigo Eddie Hardin (cantor e pianista com passagens pelo Spencer Davis Group) e em duas aparecem como coautores Ronnie James Dio e Mickey Lee Soule, tecladista do ELF, a banda de Dio na época.
O ex-baixista do Purple foi ficando empolgado coma iniciativa, que foi ganhando estatura e relevância. Daí a chamar uma constelação de amigos famosos para participar foi rápido. Glover tocou baixo, e teve como convidados Dio, Soule, David Coverdale, Glenn Hughes – ambos ainda no Deep Purple -, Tony Ashton, Jon Lord, Michael Giles, Eddie Jobson (ex-King Crimson e UK), John Lawton (ex-Uriah Heep) e alguns atores e cantores da cena musical londrina.
Bem construída e recheada de complexos arranjos, "Butterfly Ball" é um trabalho agradável e coeso, ao contrário de alguns críticos ingleses da época, que o consideraram hermético e irregular. De apelo mais pop do que rock, até por se tratar de uma adaptação de uma obra infantil, o álbum duplo em vinil é considerado um clássico do gênero, com destaque para Dio nas canções "Sittin' in a Dream", "Love Is All" e "Homewrd".
No ano seguinte, Roger Glover conseguiu produzir um único show em Londres para apresentar a obra ao vivo, e contou com as presenças de Lawton, Lord e, surpreendentemente, do amigo Ian Gillan, que tinha abandonado a música para se dedicar à hotelaria e à manutenção de lanchas. Gillan foi chamado às pressas porque Dio cancelou sua apresentação. Motivo: de emprego novo, como vocalista do Rainbow, foi proibido de participar pelo temperamental guitarrista Ritchie Blackmore, o "patrão da banda". O show virou filme em 1977.
A edição nº 57 da revista Poeira Zine traz um detalhado texto sobre o projeto, assinado pelo jornalista Ricardo Alpendre, que também é vocalista da banda Tomada. Imperdível para quem quiser se aprofundar no tema.
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