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J. Mascis amadurece em 'Tied to a Star', seu novo álbum

Combate Rock

20/12/2014 15h35

Dum de Lucca – do site Jukebox

O novo disco solo do guitarrista e vocalista do seminal Dinosaur Jr, J. Mascis, tem seu carimbo de qualidade impresso. São dez canções onde as guitarras acústicas prevalecem em um álbum muito bem amarrado, e feito na medida certa. Ele mantém a característica de cantar murmurando, mas agora há maior precisão no canto que se encaixa com perfeição a proposta intimista. Em "Tied To a Star¨, Mascis mescla instrumentos elétricos e acústicos propiciando momentos ricos e imaginativos, e com o volume alternando, alguns efeitos fuzz e acentos elétricos versáteis e mais contidos do que sua pegada no Dinosaur Jr. Ele também toca bateria e tem a ajuda de Ken Maiuri, teclados, Pall Jenkins, guitarras e o vocal de Chan Marshall.

J Mascis transcende como pioneiro do grunge, e é sim uma influência de boa parte das bandas pós 1993, se mantendo como um guitar hero desparafusado em distorção e volume. "Tied To a Star¨ é uma oportunidade para avaliar o que o tem mantido como singular exemplo de punch e de maestria para músicos e público. Em meio ao enorme catálogo de material que escreveu e lançou com Dinosaur Jr., fornece partes iguais de pegadas eletrificadas mescladas a um trabalho acústico brilhante, oferecendo tanto gritos suaves de saudades como lamentos mal-humorados, entregando um honesto rock 'n' roll.

Assim como em seu primeiro LP solo, "Several Shades of Why", 2011, não depende de interpretações acústicas despojadas, pois as músicas poderiam caber em um álbum do Dinosaur Jr tranquilamente. As baladas acústicas como a bela "Me Again" iriam encontrar eco em meio ao turbilhão psycho-punk do Dino. A canção tem teclados delicados, vocais gemendo em uma elegante harmonia, melodia solta e solos dobrados. É uma faixa honesta assim como todo play. "Every Morning" arrebenta com uma guitarra plena, forte, e as sempre bem estruturadas linhas melódicas perpetradas por Mascis. Quando ele se conecta pode dobrar notas em uma linguagem que é ao mesmo tempo nova e familiar, conjugando expressões ativas de Punk e Metal, e revelando substantivos concretos de Blues e Folk. É um dos poucos guitarristas cujas proezas técnicas nunca soam como um fim em si, mas simplesmente um meio de obter seu ponto de vista.

jmascis

Em "Heal the Star", dedilha no violão acordes utilizando seu senso de dinâmica para empurrar o ouvinte para algo completamente desconfortável. Muda para a sua gama de falsetes lentamente, esgueirando-se por efeitos reversos de guitarra, com influências nitidamente orientais. Em "Wide Awake", que mais uma vez mostra um lindo fingerpicking, as harmonias pouco acrescentam à dinâmica da música, mas ela tem seu próprio brilho no refrão repetido e nos tambores, introduzidos novamente perto do clímax da música, convidando o piano a entrar na festa junto ao solo de guitarra final. "Tied To a Star" é uma coleção de músicas folks densas e delicadas, mas que se tornam ainda mais poderosas pela sensibilidade e pela habilidade com que Mascis articula o todo.

Já a instrumental "Drifter", com tambores e violões dobrados lembra muito Jimi Page com suas pegadas dissonantes, com aberturas, compassos espessos e uma massa sonora convincente. Na verdade, o material não difere entre si, as canções correm pelo mesmo leito. Muito porque o timbre da voz de Mascis e de sua guitarra são os característicos que sempre usou. A maior diferença, como na quente "Trailing Off" com seu solo visceral, é o visível amadurecimento do artista. Em outras palavras, Mascis parece estar entrando em outra fase da vida, e por consequência direta, de sua carreira. Mais tranquilo, mas sem perder a dinâmica e seu viés orgânico, está transformando conscientemente o seu estado das coisas. Esse álbum, apesar de ser muito forte, não deixa de ser estranho por isso.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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