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O blues encontra a África em Santo André com Adriano Grineberg

Combate Rock

23/10/2014 12h00

Marcelo Moreira

Um dos nomes mais importantes do cenário blueseiro nacional, Adriano Grineberg, incorporou os deuses africanos para misturar blues a ritmos daquele continente, com melodias que remetem a países como Mali, Zâmbia, Quênia, Nigéria e África do Sul. E o resultado é impressionante, e poderá ser conferido no Sesc Santo André na noite deste sábado, 25 de outubro, às 19h30.

"Blues for Africa" é o mais recente CD de Grineberg. Mistura composições próprias com clássicos como "Three Little Birds", de Bob Marley, e "Iko Iko", de James Crawford, um hino do Mardi Gras de Nova Orleans. Mas o que domina mesmo são as canções cantadas em idiomas africanos, os quais surpreendentemente o pianista paulistano canta com desenvoltura, assim como a convidada especial Graça Cunha ( da banda Altas Horas, do programa de Serginho Groisman, entre outros projetos), que dá um show em duas músicas.

Outro destaque é a participação do amigo nigeriano Rex Thomas, coautor de duas faixas – "Chimo" e "Ekenemu Uwa", duas orações na língua igbo, da Nigéria. Em termos de musicalidade, os pontos altos são as três músicas baseadas na cultura da África do Sul, que são hinos gospel zulu. São elas "Jikelele", "Syahamba" (a canção predileta de Nelson Mandela, ex-presidente do país e herói da luta contra o apartheid no século XX) e "Kumbaya". A carga emocional e sentimental das três é enorme, por mais que os ouvintes mais antenados estejam sugestionados por conta dos filmes que usam músicas locais como trilha sonora, como "Gritos do Silêncio".

Grineberg é o autor sozinho de outras duas canções, com letras nos idiomas africanos: "Olodumare", que é um canto iorubá, e "Tuareg Blues", que é uma homenagem ao povo tuaregue, do Mali. "Por incrível que pareça, não tive grandes dificuldades com as línguas africanas. A pronúncia foi facilitada pela semelhança fonética com as línguas latinas, em especial o português", diz o instrumentista brasileiro.

O projeto demorou quase 20 anos para chegar ao CD. Antes disso, Grineberg tocou de tudo, mas a paixão pelo blues sempre falou mais alto, como se percebe no CD anterior, "Key Blues", de 2010. Antes disso, o músico passou uma temporada na Índia, onde diz que se "revitalizou" com o banho de cultura hindu. A influência é tão grande que ele já gravou três CDs com mantras e instrumentais indianos, um deles ao lado de outro aficionado, o guitarrista extraordinário Edu Gomes, parceiro há 14 anos no Adriano Grineberg Quarteto e que é um dos fundadores de outra instituição do blues, a Irmandade do Blues.

"Conheci a África e parte de sua cultura nas paradas que fiz no continente na ida à Índia e desde sempre ficou clara a conexão direta e perfeita da sonoridade africana com o blues. É claro que sabemos que o blues tem origem direta na cultura africana, mas isso nem sempre ficou claro para quem curte o estilo, seja no Brasil ou nos Estados Unidos. 'Blues for Africa' é uma maneira de estreitar as relações musicais entre África e América e adicionar um elemento diferente à musicalidade do blues tradicional", analisa Grineberg.

 Divulgação –  Foto: Rei Santos

Além do trio de apoio – Edu Gomes, Rodrigo Jofré (baixo) e Sandro Grineberg (bateria, irmão mais velho de Adriano), participam como convidados a citada Graça Cunha, o ótimo gaitista e guitarrista Vasco Faé, o baixista Fábio Sá, o cantor Rex Thomas, a percussionista Michelle Abu e o produtor Daniel Lanchinho, que toca bateria em três faixas.

"Blues for Africa" é o ápice de um ano fabuloso para o blues nacional. É a prova do dinamismo e da criatividade do artista brasileiro que consegue revitalizar gênero e canções que há muito parecem esbarrar na estagnação. Os artistas brasileiros garantem que só os artistas nacionais conseguem tal feito atualmente, justamente pelas influências e características culturais. Não é à toa que mercado nacional é considerado o mais promissor fora da América do Norte, ainda que isso não signifique, no momento, sucesso de vendas.

Adriano Grineberg demonstrou que a criatividade é o melhor caminho para transitar em um meio extremamente concorrido por conta do número alto de músicos de qualidade. Mais do que isso, "Blues for Africa" é sopro de originalidade em um mercado dominado por atrações musicais populares de qualidade altamente questionável, ao mesmo tempo em que a MPB permanece adormecida e o rock, totalmente acomodado.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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