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Roger Daltrey, 70 anos, é a atração do Rock Fantasy Camp 2014

Combate Rock

22/09/2014 06h31

Marcelo Moreira

O projeto Rock'n'Roll Fantasy Camp, realizado anualmente nos Estados Unidos, anunciou a grande atração deste ano: Roger Daltrey, o mítico vocalista do Who, banda que completa 50 anos de seu primeiro lançamento em 2014 – e que ainda está na ativa. O evento é uma espécie de "acampamento" que reúne aficionados do rock em palestras, workshops, aulas e pequenos shows com a presença de professores  e alguns ídolos. Na edição de 2014, além de Daltrey estarão no evento gente importante como Joe Vitale (baterista que tocou com Joe Walsh, Crosby, Stills,and Nash e John Entwistle), os guitarristas Rick Derringer e Gary Hoey e o baterista Simon Kirke (ex-Free e Bad Company), entre outros.

Em plena forma aos 70 anos de idade, ainda que a voz tenha começado a sofrer om o tempo, Roger Daltrey nem pensou em desistir do evento, que será realizado no Foxwoods Resort Casino, em Connecticut, na costa leste americana. Além de curtir a paparicação que um evento como esse promove, é uma chance de expandir ainda mais uma marca que lhe é muito cara, a Teenage Cancer Trust (TCT), entidade beneficente que apoia e da qual é um dos diretores na Inglaterra, que ajuda crianças e adolescentes com câncer, bem como incentiva pesquisas sobre a doença.

Não se sabe se o vocalista do Who influenciou ou não, mas o fato é que o evento terá parte da renda revertida para a Teen Cancer America, entidade parceira do TCT. O músico declarou ao site Blabbermouth.net recentemente que sua presença em eventos como o Fantasy Camp são um grande "aquecimento" para empreendimentos maiores, como a turnê dos 50 anos de atividade do Who, que promete ser a última da banda, com previsão de começar em novembro.

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Para um provável delinquente e desajustado das ruas do oeste de Londres, até que o baixinho briguento se deu bem 50 anos depois. O cantor ingressou no clube dos setentões gozando de plena forma, no mesmo ano em que Jimmy Page, Jeff Beck e Ritchie Blackmore. É provavelmente o vocalista de sua geração que mais inteiro está, em termos de voz preservada – nem mesmo Mick Jagger escapou do mal, a julgar pelas apresentações dos Rolling Stones de 2012 e 2013.

Robert Plant (ex-Led Zeppelin) teve de mudar para a música country para não forçar a sua voz; Ian Gillan, aos 69 anos, também já fez mudanças na maneira como se apresenta com o Deep Purple, abandonando os agudos extremos; atpe Paul McCartney experimentou mudanças importantes em seu timbre aos 72 anos. Portanto, só mesmo o fantástico Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath), com a voz cada vez melhor, para encarar a disputa – e olhe que Hughes é quase dez anos mais novo.

Astro improvável

Estudante medíocre e guitarrista limitado, Daltrey sempre se destacou por ser um trabalhador duro e dedicado, geralmente em serviços pesados, ao mesmo tempo em que adorava em se meter em confusão, por mais que seu 1,68 metro de altura não recomendasse as brigas. Fascinado pela música negra norte-americana e louco para seguir o caminho dos idolatrados Beatles e Rolling Stones, formou uma bandinha de bairro com muita pompa e nenhuma circunstância, The Detours, em 1962.

Líder, guitarrista e às vezes vocalista, percebeu que não conseguiria sair do lugar e quase desistiu até encontrar o garoto narigudo presunçoso, mas um pouco tímido, que tocava guitarra de uma forma esquisita. Os Detours já tinha um desinteressado John Entwistle como trompista, guitarrista e baixista, e este se animou quando o amigo Pete Townshend, o narigudo em questão, foi aceito com algumas reservas por Daltrey.

Para se transformar em The Who foi necessário um amplo trabalho de convencimento em cima de Daltrey, que insistia em ser guitarrista. O moleque narigudo começou a compor e mostrar ao baixinho louro que era melhor músico e compositor, e que devia largar a guitarra e se tornar um cantor.

The Who em foto promocional da turnê norte-americana de 1975: da esq. para a dir., Keith Moon (bateria), Pete Townshend (guitarra), Roger Daltrey (vocais) e John Entwistle (baixo) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

The Who em foto promocional da turnê norte-americana de 1975: da esq. para a dir., Keith Moon (bateria), Pete Townshend (guitarra), Roger Daltrey (vocais) e John Entwistle (baixo) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

Foi um tiro no escuro, uma aposta alta, mas que deu certo: o arisco Roger descobriu não só que poderia cantar, mas que poderia cantar muito bem – em sua autobiografia, Townshend disse que já tinha percebido isso pouco tempo depois de entrar para os Detours. Era o fim do cantor Colin Dawnson à frente da banda.

O Who estava pronto para decolar no começo de 1964, mas três coisas estavam travando o então quarteto: os exaustivos empregos do vocalista, que se dividia em serviços pesados em fábricas metalúrgicas da Grande Londres; a gravidez inesperada de Jacqueline "Jackie" Rickman, a sua namoradinha; e o pouco entusiasmo de Doug Sandem, o baterista dez anos mais velho do que os outros.

Muito prático e seguro, não demorou para resolver as três questões: casou-se com Jackie (o filho, Simon, nasceu no final de 1964), os empregos foram abandonados e Sandem perdeu o posto para um moleque falastrão, desdentado e completamente maluco. Aos 17 anos, Keith Moon desafiou Townshend após um show fraco do Who em uma espelunca no sul de Londres. "Eu toco melhor do que o seu baterista." O guitarrista pagou para ver e o moleque destruiu a bateria de Sandem. Diz a lenda que uma semana depois já era o baterista oficial do Who.

O cantor logo se tornaria uma das vozes do rock mundial, ainda nos anos 60, mas demoraria um ano para que isso ocorresse. Até o final de 1965, quando do estouro de "My Generation", Daltrey quase sairia duas vezes do grupo – a primeira por falta de grana, já que teve de abandonar os dois empregos de metalúrgico -, e a segunda opor conta das constantes brigas com Moon e Townshend, que às vezes chegavam às vias de fato. E meados de 1965 foi expulso após outra briga interna, para voltar uma semana depois prometendo se controlar – o vocalista não tolerava as bebedeiras e as brincadeiras malucas do baterista, este sempre apoiado por Townshend.

Porrada novamente, somente oito anos mais tarde, quando o Who já era gigantesco e rivalizava com a principal banda do mundo com Rolling Stones, Led Zeppelin, Faces e Pink Floyd – e quando o baixinho brigão já tinha se tornado astrop de cinema e símbolo sexual de uma geração. Nada mal para um delinquente condenado a ficar com o nariz enfiado em um torno mecânico.

Roger Daltrey (esq.) e Pete Townshend, a dupla do Who, em foto promocional do ano passado (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Roger Daltrey (esq.) e Pete Townshend, a dupla do Who, em foto promocional do ano passado (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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