Um australiano leva o folk rock para o noroeste paulista
Marcelo Moreira
Quem vê o moço no palco de um sofisticado bar em uma área nobre de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, até pode imaginar se tratar de um gringo perdido por conta do fim da Copa do Mundo no Brasil. O rapaz fala um inglês perfeito e até tenta falar português – vai bem em algumas expressões e palavras. O que faz um australiano cantando um folk com pitadas de U2 no interiorzão do Brasil?
Steve Tyssen está tentando a sorte como músico no país, e já faz tempo. Há alguns meses andando por aqui, com violão e amplificados na mochila, acabou apadrinhado por dois ótimos músicos de Rio Preto, o baterista Stefano de Marco e o versátil baixista Victor Campos, que também tocam em outras bandas de rock e MPB pela cidade.
Eles se tornaram o suporte do Steve Tyssen Trio, que faz um som bem diferente do que se vê na região noroeste do Estado, dominada pela música sertaneja e pelo sertanejo universitário. Nos poucos bares que se dedicam ao rock e ao pop rock em Rio Preto, o trio é um oásis de boa música, com uma proposta diferenciada.
O músico australiano, de 28 anos e que até namorada tem em Rio Preto, faz versões de alguns clássicos do rock, como canções de Neil Young e Creedence Clearwater Revival, e de bandas mais contemporâneas, como Radiohead e Coldplay, servindo de base para que possa inserir músicas próprias de seu primeiro EP, "All That You Want Is Everything", que ele vende nos shows a R$ 5.
Gravado em sua cidade natal, Brisbane, no estado de Queensland (nordeste da Austrália), o EP teve todos os instrumentos executados por Tyssen, que produziu a obra de forma simples em um estúdio caseiro. O folk predomina, com alguns arranjos que remetem a um pop rock mais acessível e moderno. Não há originalidade nas seis músicas, e nem esse era o objetivo. "São músicas que compus ao longo de um tempo em que estive focado na produção. Como fiz tudo sozinho, deu trabalho", diz o sempre sorridente músico australiano.
A vida não está fácil para o trio em Rio Preto, que se desdobra em alguns bares para mostrar o trabalho. O ponto alto do EP e do show é a cativante "Taking My Time", que carrega um pouco no romantismo, mas com uma vertente mais inglesa, mais contemplativa e resignada, sem pieguismo ou doses maciças de açúcar. Os teclados no EP dão um tom mais U2, o que não é ruim, embora às vezes confunda um pouco o ouvinte.
A faixa-título é a mais pop, com um riff de violão e guitarra bem sacado, embora o instrumento dobrado se perca um pouco na epifania sonora. A delicada "Picture This" desacelera um pouco, com uma letra interessante sobre vários aspectos da vida. A mais romântica, "Everything Is Good For You", acentua um pouco a melancolia folk que predomina no trabalho, mas acena com algum tipo de esperança.
Por enquanto Steve Tyssen é uma curiosidade em Rio Preto, ainda em plena adaptação a um mercado mais difícil do que o normal, mas mostra boas qualidades em seu trabalho autoral. Sem espalhafato e tentando fazer algo diferente, o australiano do folk se torna uma opção em um deserto de boas ideias próprias.
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