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A música agora é de Deus

Combate Rock

12/07/2014 07h32

As mudanças no mercado musical mundial estão começando a afetar as lojas físicas de instrumentos musicais. Muitas já fecharam as portas nos Estados Unidos e Inglaterra desde 2012 e no Brasil os efeitos podem ser sentidos nos dois principais locais de vendas de instrumentos de São Paulo, a região da rua Santa Efigênia e a rua Teodoro Sampaio, na zona oeste de São Paulo. Também no interior do Estado a coisa não está boa para o setor, como podemos observar no texto do repórter Beto Carlomagno, do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto. Um terço das lojas de instrumentos e acessórios fechou, as vendas caíram até 40% e praticamente só as igrejas e instituições de cunho religioso mantém o movimento. Os vendedores e gerentes têm explicações interessantes a respeito do problema, que atinge também outras cidades importantes, como Jundiaí, Bauru, Ribeirão Preto e São José dos Campos, em proporções diferentes. Abaixo, o texto de Beto Carlomagno sobre a realidade em São José do Rio Preto. (Marcelo Moreira)

da equipe Combate Rock

O comércio de instrumentos musicais e acessórios ligados à música já não é o mesmo em Rio Preto. Nos últimos anos, lojas especializadas do setor viram as vendas caírem entre 20% e 40%. Na região central da cidade, em especial nas ruas Marechal Deodoro e Coronel Spínola de Castro, área em que está localizada a maioria das lojas do ramo, a baixa procura levou três lojas a fecharem suas portas nos últimos meses.Na cidade, é basicamente o segmento religioso que segura o comércio nas lojas especializadas.

De acordo com a Associação Brasileira da Música (Abemusica), nos últimos três anos o crescimento nas vendas do setor de instrumentos musicais e acessórios tem permanecido na casa dos 6%. Entretanto, é consenso entre os lojistas que o que mantém estes estabelecimentos atualmente é o comércio de instrumentos e acessórios para igrejas e grupos de música religiosos, além da prestação de serviços de som. "Hoje em dia, 90% dos nossos clientes são igrejas", afirma Danismael Gouveia, gerente da River Music.

"Também é importante oferecer os melhores serviços para o cliente. Precisamos estar sempre dispostos a atender às necessidades do público, nos esforçar para resolver seus problemas e então fidelizar esse consumidor. Fazemos montagem de sistemas de áudio, prestamos assistência, etc", diz Flávio Simões, vendedor da Clayton Instrumentos Musicais há 17 anos. Ele diz que um dos fatores que mais pesam atualmente no mercado é a falta de artistas que inspiram o desejo nos jovens de aprenderem a tocar um instrumento.

"É uma questão cultural. Hoje em dia, o mercado musical não tem grandes artistas instrumentistas, a maioria produz suas músicas apenas em computadores. Quando surgem artistas de sucesso com músicas ligadas fortemente ao instrumento que tocam, a motivação para comprar cresce. A qualidade artística atrai o público. Na época em que a Família Lima fazia sucesso, por exemplo, muita gente queria comprar aqueles instrumentos",acredita Simões.

Supérfluo

A compra de instrumentos musicais também é afetada pelo fato de a música ser considerada por muitos como um artigo supérfluo nas finanças. "Em qualquer momento de necessidade financeira, a primeira coisa cortada do orçamento é a música. Na hora da necessidade, a primeira coisa que os pais fazem é cortar as aulas de música", diz Ricardo Cordeiro Pedra, gerente da loja A Joia Musical, uma das mais antigas do comércio de Rio Preto, inaugurada em 1957.

Outro ponto que pesa é a durabilidade deste tipo de produto. "Instrumentos musicais, se bem cuidados, duram anos. Um bom violão, por exemplo, no máximo vai precisar trocar suas cordas durante um bom tempo, por isso, as pessoas que gostam passam anos e anos sem trocar seu instrumento", afirma Simões.

Internet é melhor

A internet e o e-commerce facilitam a vida dos consumidores e, em alguns casos, oferecem preços mais em conta para instrumentos e acessórios, o que acaba tornando as lojas virtuais grandes competidoras dos espaços físicos.

"A busca por esse tipo de produto na internet aumentou bastante nos últimos anos, o que é um problema para os lojistas de Rio Preto, já que dificilmente conseguimos competir com os preços de lojas online", diz Danismael Gouveia, gerente da River Music.

O músico e gerente de TI Paulo Henrique Camillo Dias costuma comprar instrumentos pela internet em função do custo-benefício que é poupar tempo e dinheiro. Ele já comprou equipamentos para voz, guitarra, percussão e até mesmo piano. "Além da comodidade de pesquisar os preços, existe uma variedade muito grande, que dificilmente conseguimos encontrar em lojas físicas."

Dias também já fez compras de instrumentos em São Paulo, onde há uma rua com diversas lojas especializadas nisso, na Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade. Para ele, a vantagem de preço não existe mais, embora o poder de barganha seja maior em função da concorrência, mas há casos, como foi o da compra da guitarra, em que era imprescindível experimentar, tocar, escutar o som do instrumento. "Talvez esta seja a desvantagem da internet."

O diferencial de preço, no entanto, é imbatível na rede mundial. Em alguns casos, mesmo comprando em lojas virtuais de outros países, e sujeito a taxas de importação impostas pela Receita Federal, ainda assim compensa comprar pela internet. Os gaitistas, por exemplo, conseguem comprar instrumentos da marca alemã Hohner por quase 10% a menos do que o preço cobrado por lojas brasileiras.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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