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Mano Sinistra e Sagrado Coração da terra tocam no Sesc em fevereiro

Combate Rock

03/02/2014 06h26

Marcelo Moreira

Após um janeiro morno, o Sesc de São Paulo entra com tudo em fevereiro de 2014 com uma programação roqueira e blueseira, privilegiando os artistas nacionais. E começou forte no último final de semana, com dois dias de shows com Os Mutantes, que retomam as atividades após um período de descanso. E quem dá o tom no rock é a unidade do Belenzinho, na zona leste de São Paulo, com a maior variedade e com uma grande novidade, o retorno à capital paulista da subestimada banda de rock progressivo mineira Sagrado Coração da Terra, criada no início dos anos ano pelo violinista e mestre das trilhas sonoras Marcus Viana.

Saída dos escombros do ótimo Saecula Saeculorum, formação mineira progressiva dos anos 80, o Sagrado inovou ao adicionar elementos de música brasileira bem antes de as bandas de metal mergulharem de cabeça na tendência. Banda bissexta, gravou apenas cinco álbuns em 35 anos de atividade, enquanto Viana, que também é produtor musical e publicitário, engatava uma carreira solo consistente transitando entre o instrumental brasileiro, MPB e rock, e uma bem-sucedida carreira de compositor de trilhas para novelas das TVs Manchete e Globo e filmes nacionais.

Segundo Viana, a proposta foi imaginada por ele em 1979: criar uma atmosfera de rock sinfônico progressivo universal com elementos barrocos, alicerçados por textos filosóficos de ecologia e espiritualidade. As influências, claro, são nítidas: o melhor do rock progressivo de Yes, Genesis, Mahavishnu Orchestra e mestres da música erudita, como Wagner, Debussy, Ravel, Stravinsky e Villa-Lobos. Foi o primeiro grupo de rock nacional a abordar temas brasileiros e folclóricos, com a inserção de músicas com textos traduzidos inteiramente para o tupi-guarani e dialetos krenak e yanomame.

Uma das formações recentes do Sagrado Coração da Terra; Marcus Viana é o que segura o violino (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma das formações recentes do Sagrado Coração da Terra; Marcus Viana é o que segura o violino (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A volta do Sagrado conta com a presença do vocalista Sérgio Pererê à frente do grupo, finalmente realizando um antigo sonho de Marcus Viana. Com essa banda, que na verdade é uma fusão do antigo e do novo Sagrado e da Transfônica Orkestra, Marcus apresenta o repertório que traz pérolas dos trabalhos anteriores e canções inéditas, todas trabalhadas sempre com uma textura que também caracterizou o Sagrado progressivo étnico e sinfônico. A formação atual tem Marcus Viana (voz, violino e teclados), Sérgio Pererê (voz), Camila Amorim (voz), Augusto Rennó (violão e guitarra), Ivan Corrêa (baixo), Eduardo Campos (tímpanos e percussão), Esdra Neném Ferreira (bateria) e Danilo Abreu (teclados).

A discografia pequena conta com os álbuns "Sagrado Coração da Terra" (1984), "Flecha" (1987), "Farol da Liberdade" (1991), "Grande Espírito" (1994) e "A Leste do Sol, Oeste da Lua" (2000) e a apresentação ocorre no dia 22 de fevereiro, às 21h. No dia anterior, no mesmo horário, a banda se apresenta no Sesc Santo André.

Outro destaque do Sesc Belenzinho é o lançamento do CD do trio de rock pesado Mano Sinistra, autointitulado. O inusitado é que a banda usa uma viola eletrificada, e não uma guitarra elétrica, gerando um som único e exclusivo, a cargo do violeiro workaholic Ricardo Vignini (Moda de Rock e Matuto Moderno, entre outros). O completam o trio o baterista Paulo Thomaz (ex-Centúrias e Firebox, atual Baranga e Kamboja) e o baixista e cantor Marco Lucke (ex-Frank Elvis e Los Sinatras, Houdinis e Malaco Soul).

Mano Sinistra: da esq. para a dir., Marco Lucke, Paulão Thomaz e Ricardo Vignini (foto: DIVULGAÇÃO/RITA PERRAN)

A participação especial fica por conta do guitarrista Bruno Kayapy (Macaco Bong), que retoma a carreira após problmeas administrativos que culminaram coma saída de dois integrantes do Macaco Bong. Mano Sinistra que significa "canhoto" em italiano, investe na origem roqueira de seus integrantes, que transita pelo rock clássico, blues e heavy metal. Além da viola, destaque para as letras do poeta e escritor Paulo Nunes, que enveredam por uma temática ácida e urbana. O trio toca no dia 16 de fevereiro, às 18h.

Um pouco antes, no dia 8, às 21h30, a atração é a banda punk Beijo AA Força, de Curitiba. No repertório, a íntegra de "Sem Suingue" (1995), seu principal trabalho. Elogiado pelo antropólogo Hermano Vianna, o disco traz uma mistura de punk rock, com samba e música brega, tudo temperado com certa agressividade e letras ácidas e cínicas. Surgido em 1983 depois da desintegração da Contrabanda, estreou no 1º Festival Punk de Curitiba em 13 de novembro de 1983, com a organização da própria banda. O show abriu espaço para que outras bandas também produzissem shows e firmassem a cena punk e de música autoral na cidade.

Nesse tempo de carreira, com o trabalho interrompido várias vezes por motivos diversos, a banda fez shows pelo interior e em diversas capitais do país, sempre de forma independente, com influências do punk do The Clash e The Pogues e pelo samba de Cartola, Lamartine Babo e Nelson Cavaquinho. O show terá a participação de Antonio Saraiva, multiinstrumentista, cantor, arranjador e compositor que participou do disco com diversas músicas e também como produtor. A atual formação tem Rodrigo Barros (voz principal e guitarra base), Walmor Góes (guitarra solo), Antonio Saraiva (saxofones), Luiz Ferreira (baixo e vocais de apoio), Ricardo Janotto (bateria) e Cezar Reis (teclados).

Outra lenda punk, desta vez de São Paulo, é a atração no final do mês. Egressos da Lixomania, banda paulista que lançou o primeiro disco punk no Brasil, o 365 começou em 1983. Com uma sonoridade pós-punk e letras politizadas, que renderam ao grupo o rótulo de rock de combate, tem canções como São Paulo e Grândola Vila Morena (versão da composição do português Zeca Afonso que foi transformada em hino pelos manifestantes na Revolução dos Cravos) consideradas clássicos do rock nacional.

A banda faz o lançamento de "O Destino", quarto disco de sua carreira. Além do repertório do novo trabalho, músicas de toda a carreira e os clássicos imprescindíveis. Formada por Miro de Melo (bateria e voz), Ary Baltazar (guitarra e voz), Roberto Pallares (baixo e voz) e Neto Trindade (voz). A banda conta com as participações especiais de Tatola (ex-Não Religião e atual Nem Liminha Ouviu) no dia 27 e Mingau (Ultraje a Rigor e integrante da primeira formação do 365) e Thunderbird (Devotos de Nossa Senhora Aparecida) no dia 28. 

Do Sul do país, mas radicada em São Paulo, vem o Cachorro Grande, uma das principais bandas brasileiras de pop rock underground do país. A banda gaúcha, formada por Beto Bruno (voz), Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Kriegger (baixo), Gabriel Azambuja (bateria) e Pedro Pelotas (guitarra), faz show de relançamento do disco "Baixo Augusta" (2011) em vinil. O grupo faz um rock repleto de referências inglesas (The Kinks, Beatles, Stones, The Who) e de nomes como MC5 e Velvet Underground, além de Mutantes e Cascavelettes. O show é no dia 15 de fevereiro, às 21h30.

No blues, o Belenzinho oferece o interessante show de Jon McDonald, guitarrista norte-americano que presta homenagem a Magic Slim, um dos maiores nomes do blues de Chicago, morto no ano passado. Também natural daquela cidade dos Estados Unidos, acompanhou a partir dos anos 80, e gravou, com grandes nomes como Koko Taylor, Big Time Sarah, Mississippi Heat, Kinsey Report e o Delta Blues Cartel, formado por Homesick James, Henry Townsend, Honey Boy Edwards e Robert Lockwood. Em 2001, passou a integrar os The Teadrops, banda de apoio de Magic Slim. Juntos realizaram inúmeras turnês mundiais, inclusive passando duas vezes pelo Brasil (2005 e 2011). Participou da gravação de 4 discos e 1 DVD. A banda que o acompanha é formada por Giba Guitar Byblos (guitarra), Maestro Fabio Basili (baixo) e Paulinho Sorriso (bateria). A apresentação ocorre no dia 21 de fevereiro, às 21h30. O músico toca também no Sesc Ribeirão Preto no dia 20.

Pulando para a zona oeste da cidade, temos os cariocas do Blues Etílicos no Sesc Pinheiros, dia 21, às 21h, mostrando músicas de seu mais recente álbum, "Puro Malte", com os convidados especiais Bocato (trombonista), Izzy Gordon (cantora) e o pianista, cantor e gaitista norte americano Donny Nichilo. Blues da melhor qualidade também na Vila Mariana, com o guitarrista e cantor Amleto Barboni e seu trio, com músicas do DVD "A Night at Maxwell Street". O show é no dia 28 de fevereiro.

Voltando ao rock, o quarteto punk paulistano Inocentes recebe o grupo Six Rock Strings, grupo de música erudita que adapta clássicos do rock. a reedição do espetáculo, que fez sucesso em 2013, ocorre no Sesc Osasco no dia 8 de fevereiro. Na unidade da Vila Mariana, mais rock, com Autoramas e BNegão (26 e 27 de fevereiro) e banda Tatá Aeroplano recebendo Lucinha Turnbull, Ava Rocha e Juliana Perdigão no dia 13.

No interior do Estado, destaques para a banda de pop rock Hurtmold (Piracicaba, dia 20), Ruído Fino com Izzy Gordon (Ribeirão Preto, dia 27), Móveis Coloniais de Acaju (São José do Rio Preto, dia 13) e Made in Brazil com Tony Campello e Peter Screw (Presidente Prudente, dia 8).

Sesc Belenzinho

Endereço: Rua Padre Adelino, 1.000.

Belenzinho – São Paulo (SP)

Telefone: (11) 2076-9700

www.sescsp.org.br/belenzinho

 

Estacionamento

Para espetáculos com venda de ingressos:

R$ 6,00 (não matriculado);

R$ 3,00 (matriculado no SESC – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo / usuário).

PARA INFORMAÇÕES SOBRE OUTRAS UNIDADES, ACESSE WWW.SESCSP.ORG.BR.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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